Não costumo fazer resoluções de ano ano novo, mas eu sabia que 2015 teria que ser um ano diferente. Na verdade, eu queria que fosse um ano diferente, levando em consideração que 2014 foi um tano quanto turbulento.
Uma das principais mudanças é que não sou mais uma universitária. Depois de quatro anos finalmente posso dizer que me formei e sou uma jornalista. Ainda melhor do que isso, sou uma jornalista formada e empregada na área, algo muito difícil no cenário atual.
Eu sabia que teria mais tempo, liberdade e que poderia melhorar muitas coisas na minha vida, como na alimentação. Uma das minhas ideias era almoçar menos fora em 2014 e fazer minha própria comida e isso está dando certo! No meu trabalho posso cozinhar, o que é incrível e facilita MUITO a vida.
No final do ano passado comprei um videogame para mim. Depois de procurar bastante, minha mãe sem querer viu o anúncio de um Playstation 3 usado com um preço muito bom. Comprei. Um dos meus objetivos era me preocupar menos e me distrair mais, por isso achei que o console seria uma boa.
Outra coisa que eu queria fazer era aumentar a quantidade de livros que leio por mês. Não por quantidade, mas porque eu sei a importância da leitura, principalmente para uma jornalista. Tenho muitos livros na lista e queria dar uma guinada nisso em 2015.
Estamos no penúltimo dia de janeiro e já consegui fazer bastante coisa, mas vou destacar aqui um livro, um jogo e uma música que gostei muito de ter gastado meu tempo com no primeiro mês do ano. Minha ideia é fazer isso a cada mês.
*hoje não tem música por motivos de: cansaço rs
Livro: O Irmão Alemão
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia das Letras
Comprei O Irmão Alemão no final do ano passado. Desde quando li Leite Derramado me apaixonei pela literatura de Chico Buarque e o pouco de informação que eu tinha sobre seu novo romance me deixou muito interessada. O artista realmente teve um irmão alemão, fruto de um romance de seu pai, Sergio Buarque de Hollanda, com uma moça do país europeu enquanto morou lá como correspondente de um jornal brasileiro antes da ditadura militar. O historiador teve que voltar o Brasil antes mesmo do menino nascer e provavelmente nunca pode vê-lo.
O fato que tinha um irmão alemão intrigou Chico Buarque, o que o levou a uma busca desenfreada por informações do filho perdido de uma das mais importante figuras literárias do país. De acordo com o próprio artista, ele teve uma "obsessão" com o seu laço fraterno germânico. E isso é extremamente claro no livro.
Não dá para saber exatamente o que é ficção, o que é especulação e o que realidade em O Irmão Alemão. Muitas coisas de fato aconteceram e são completamente relacionadas à vida real. O nome do pai do protagonista, Francisco de Hollander, é Sergio de Hollander. Não só uma mera semelhança com o Francisco e o Sergio de Hollanda de verdade.
No livro, Ciccio é o filho mais novo da família e o mais inteligente e curioso. Diante de um pai não somente letrado, mas obcecado por livros, de pouco diálogo e muito tempo gasto em sua biblioteca particular meticulosamente organizada por sua esposa, o garoto segue uma busca implacável por seu irmão alemão, indo atrás de todas as pistas que pode ter.
Gostaria de falar mais, mas não quero dar spoiler para quem não leu, pois esse livro realmente vale a pena ser lido. Provido de uma leitura prazerosa, com humor, romance, literatura, música, francês, alemão, italiano, espanhol, História, Chico Buarque consegue, novamente, nos levar a entender a mente de seu personagem principal, os motivos de suas aventuras - desde investigativas a sexuais - e a incansável busca pelo seu laço sanguíneo perdido.
Você certamente vai gastar um tempo se perguntando se aquilo que está lendo realmente aconteceu com o personagem, se é uma divagação baseada na obsessão em encontrar seu irmão ou se é um fato da vida real de Chico Buarque e sua família.
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Jogo: The Last of Us
Desenvolvedor: Naughty Dog
Plataforma: Playstation 3
Comecei a jogar The Last of Us da maneira mais despretensiosa possível. Ele veio entre os sete jogos que ganhei ao adquirir meu Playstation 3. Como eu queria algo diferente, não só ficar no FIFA, resolvi dar uma chance. Me apaixonei. Levei quase que exatamente um mês para fechar, mas foi uma experiência completamente nova e prazerosa.
Em um mundo apocalíptico depois da difusão de um vírus que deixa as pessoas semi mortas, a jovem Ellie é colocada sob os cuidados de Joel para que seja levada até um centro de pesquisa. O motivo é que a garota foi mordida por um dos infectados, mas não se tornou um deles (o que não acontece normalmente). Por isso, acreditam que ela tenha a cura para a humanidade.
Em sua trajetória até o final, Joel e Ellie passam pelas mais diversas situações tendo que lidar tanto com os infectados quanto com militares e pessoas mal intencionadas.
Os recursos para o jogador são limitados. Você não tem munição infinita e nem sempre vai achar o que precisa quando mais precisa. Muitas vezes, é preciso se virar com o que tem. Por incrível que pareça, mesmo as partes mais difíceis de serem vencidas não te deixam desanimado, mas fazem com que vocês chegue cada vez mais perto de zerar o jogo.
The Last of Us vale muito a pena. Tem um roteiro muito bem montado, uma história comovente e te leva a raciocinar muito.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Ledo engano ou puro sexismo? – O triste mundo do basquete feminino
Ontem à noite fui surpreendida
com a efusiva comemoração de que Mike Krzyzewski, técnico do basquete masculino
da Duke University desde 1980, conquistou sua milésima vitória na NCAA. Grande
feito, sem dúvidas. Mas me surpreendeu quem comemorava entusiasmadamente o fato
de ser “o primeiro da NCAA a atingir essa marca”.
Acontece que isso não é verdade. Mike
Krzyzewski, conhecido como Coach K, foi o primeiro técnico a atingir 1 mil
vitórias na primeira divisão do basquete masculino da NCAA. Anos antes outra
pessoa já havia feito isso. Uma mulher. Uma mulher incrível, na verdade: Pat Summit atingira
os quatro dígitos em sua carreira com a University of Tennessee.
Pat Summit, à esquerda, e Mike Krzyzewski, à direita
Ledo engano ou puro sexismo? O
desserviço de meias-notícias no jornalismo tem provado que por qualquer um
desses motivos as consequências da circulação de informações mal apuradas são
refletidas no estancamento da evolução de modalidades e investimentos em
equipes e ligas. No caso do basquete feminino, a situação é ainda mais
drástica.
Pat Summit se tornou conhecida
nos últimos anos por ter encerrado sua carreira antes do esperado devido ao diagnóstico
precoce de Alzheimer. Em 2012, a comandante se afastou das quadras, deixando um
legado de invejar técnicos tanto na esfera universitária quanto na profissional
ou internacional (FIBA).
Foram oito títulos conquistados
com as Lady Vols, com planteis recheados de grandes jogadoras que adentraram a
WNBA e o basquete internacional, sendo os principais nomes Candace Parker e
Tamika Catchings, além de Kara Lawson, que hoje já está em fim de carreira, e
Michelle Snow e Chamique Holdsclaw, aposentadas. Quando a técnica anunciou seu
estado de saúde e o iminente fim das atividades basquetebolísticas a comoção foi
enorme.
Quem acompanha o esporte da bola
laranja sabe a importância de Summit para a modalidade, sua dedicação ao ensino
do basquete e às vitórias da instituição de ensino objeto de desejo de muitas
garotas que sonham em virar estrelas do esporte.
Pat Summit, no meio, e suas
ex-atletas Kyra Elzy, Michelle Marciniak, Candace Parker, Chamique Holdsclaw e
Tamika Catchings, da esquerda para a direita (Foto: Wade Rackley, Tennessee Athletics)
O fato de todo esse histórico ser
ignorado diante do marco atingido por Mike Krzyzewski é prejudicial no sentido
de sepultamento da memória e sucateamento do basquete feminino em esfera
internacional.
A realidade feminina dentro dos
esportes é extremamente difícil. Mulheres que estão envolvidas neste mundo,
sejam atletas, técnica, jornalistas, empresárias ou gerentes de equipes,
conhecem todas as barreiras que precisam quebrar para alcançar a credibilidade
diante de uma maioria de homens que as avalia por sua aparência ante suas
habilidades.
Jornalisticamente falando, quando
publica-se um fato é importante que todo o cenário seja especificado para o
leitor. Portanto, no caso das mil vitórias do Coach K, seria extremamente
necessário mencionar que o técnico chegou a essa marca no BASQUETE
UNIVERSITÁRIO MASCULINO, não simplesmente na NCAA. Esse segundo caso abrange
toda a competição.
Depois, o ideal seria informar
que essa não era a primeira vez que um comandante chega ao milésimo triunfo no
cenário universitário, mas que este era precedida por – tcharam – Pat Summit,
técnica da University of Tennessee. Isso custaria um parágrafo de poucas
linhas. Vamos ver?
“O técnico Mike Krzyzewski, da Universidade de Duke, chegou a mil
vitórias na NCAA após triunfo por 77 a 68 contra St. John no emblemático
Madison Square Garden, em Nova Iorque, na noite do domingo. O comandante se
tornou o segundo a alcançar dígitos quádruplos no basquete universitário, sendo
o primeiro entre os homens.”
Um simples lead/lide com, quem, o que, como, quando e onde, do qual minha
professora do primeiro semestre da faculdade de jornalismo ficaria orgulhosa.
Depois da introdução, não precisava nem comentar sobre Pat Summit, mas se é
para ignora-la e deixar de lado o seu feito, que pelo menos a ordem dos fatores
fosse respeitada.
Aqui no Brasil eu não vi
jornalistas comentando sobre a técnica mão de ferro em seus textos. Nos Estados
Unidos os veículos de comunicação foram mais cuidadosos em especificar um “Duke head coach Mike Krzyzewski became the
first Division I men's basketball
coaching to earn 1,000 wins on Sunday”. Talvez porque eles saibam a importância
do basquete universitário e de Pat Summit e se preocupem com o pouco de
respeito que podem ter com sua memória.
À esquerda, Seattle Seahawks campeão do SuperBowl 48, à direita, Seattle Storm campeão da WNBA em 2010
Uma outra situação mostrou a
pouca importância dada para o basquete feminino. O Seattle Seahawks foi o campeão
da última temporada da NFL e o comentário dos narradores e comentaristas da
partida contra o Denver Broncos era: “a cidade de Seattle finalmente conhece um
título depois anos sem conquistar um troféu”. Em 1979 O Seattle Supersonics derrotara o
então Washington Bullets por 4-0 nas finais da NBA e as outras equipes de lá não lograram mais campeonatos.
O problema é que o Seattle Storm, franquia de basquete feminino da WNBA, já
havia conquistado não somente um, mas dois títulos bem recentemente. O primeiro
em 2004 e o segundo em 2010. Além de ter chegado ao topo da moadlidade, a equipe contava com as melhores jogadoras do esporte: Lauren
Jackson e Sue Bird.
Ledo engano ou puro sexismo? A
verdade é que a expressão “conhecer bem esportes” significa saber o que acontece nas
modalidades masculinas, não tendo problema ignorar as femininas. Agora,
entender muito bem do que acontece no cenário esportivo das mulheres não vale
como gabarito para comentar em veículos de comunicação ou rodas de amigos.
A capital do estado de
Washington, nos Estados Unidos, tem times muito conhecidos. O de futebol
americano, o falido Seattle Supersonics, da NBA (basquete), o Seattle Sounders
FC, da MLS (futebol), e o Seattle Mariners, da MLB (baseball). Mas uma outra
equipe também chama a atenção, o Seattle Reigns FC, da NWSL (futebol feminino),
que conta com Hope Solo em seu elenco.
Aqui no Brasil vemos um descaso
vergonhoso com o basquete feminino, que guarda uma das histórias mais ricas no
cenário internacional. A seleção brasileira é uma das únicas campeãs mundiais,
ao lado dos Estados Unidos (8), União Soviética (7) e Austrália (1). A maior
cestinha de mundiais da FIBA é brasileira: Hortência. O país que mais sediou
mundiais foi o nosso. Hoje, Érika de Souza é uma das pivôs mais importantes do
mundo, Damiris Dantas é uma ala/pivô que causou uma impressão surreal naWNBA,
Tainá Paixão estragou adversários na campeonato da Turquia, Também temos estrangeiras
mais do que relevantes vindo jogar na LBF e o que fazemos com isso?
Conquista do ouro brasileiro em 1994 completou 20 anos no ano passado. Qual foi a importância dada pela mídia?
A Globo, principal parceira da
liga feminina, transmite meia dúzia de jogos aos sábados de manhã no SporTV,
jornalistas não escrevem sobre o assunto, senão para reclamar do que mal
acompanham. Comentaristas insistem em abaixar o aro para que as mulheres possam
enterrar.
No futebol, o Santos extinguiu a
equipe feminina e manteve o Neymar, Marta ganhou a bola de ouro da FIFA cinco
vezes e jamais teve o mesmo reconhecimento que a mídia brasileira dá para
Cristiano Ronaldo. E quando vemos notícias de esportes femininos, é mais comum
ler sobre as “beldades” dos campeonatos do que as habilidades das incríveis
atletas que tiveram que passar pelas mais adversas situações para alcançar o
topo.
Ledo engano ou puro sexismo?
Sexismo.
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