segunda-feira, 25 de março de 2013

Eu escolhi a pilula vermelha - Connection Conference Brasil 2013 (Parte 1)

Comecemos com a comparação nerd.

No primeiro filme da série Matrix, Morpheus oferece a Neo duas oportunidades: conhecer a realidade, com a pilula vermelha, ou continuar na Matrix - uma ilusão criada por máquinas onde tudo parecia estar bem, através da pilula azul. Pense bem. Qual você escolheria? O mundo real estava desolado. Destruído. Arruinado. Não havia nada de belo. A Matrix, por outro lado, oferecia todos os prazeres que o ser humano gosta de ter. Comida boa. Lazer. Dinheiro. Nada verdadeiro, mas a sensação agradável de ter/poder estava lá.

Neste fim de semana (22, 23 e 24), eu participei da Connection Conference, em sua primeira edição brasileira, na Igreja Cristã da Família aqui na Vila Mariana. Obviamente, estava super empolgada. Mais ou menos me sentindo do modo como Morpheus definiu Neo antes de abrir as portas da descoberta: "You have the look of a man who accepts what he sees because he expects to wake up".

Aos participantes do evento, já havia sido dito que o foco seria missões, principalmente com o objetivo de entender a realidade do continente europeu dentro do contexto espiritual.

Espera. Pára tudo.

Realidade do continente europeu no contexto espiritual? Ué, mas não foi na Alemanha que surgiu a Reforma Protestante, através de Lutero? Não foram os ingleses que, por precisar fugir da perseguição, levaram o Evangelho à América do Norte? E na Itália? Quantos cristãos foram mortos? Ah, um continente não rico, cheio de belezas... É claro que Jesus está naquele lugar cheio de crente.

Bom, mesmo já sabendo um pouco que o frio europeu não se resumia às temperaturas do inverno, mas também ao momento espiritual do Velho Continente, eu queria saber o que mais precisava conhecer para poder cooperar com o corpo de Cristo do hemisfério oposto.

O primeiro choque de realidade aconteceu na noite de sexta-feira, quando o primeiro pastor, como parte da pregação, nos passou alguns dados sobre a porcentagem de cristãos verdadeiros nos países da Europa. Os números giravam em torno de 0,1% e 10%. Assustador. No final, enquanto o pastor conduzia uma oração de avivamento ao continente europeu, Deus me levou a prestar atenção nos irmãos estrangeiros que estavam lá. Dava para sentir o desespero, o desejo e a esperança. Naquele momento eu me dei conta de que eles realmente acreditavam que nós, seus irmãos brasileiros do terceiro mundo, poderíamos ser a chave de uma nova realidade para sua terra natal. A cada pedido do inglês lá no palco, nossos queridos visitantes se entregavam, assim como intensificavam suas orações, com uma fé que era praticamente visível e palpável. O momento, porém, que mais cortou o meu coração foi no final dessa conversa com Deus. O pastor orou para que a sombra da herança comunista fosse afastadas daquelas nações.

Parecia que o alvo havia sido atingido. Nesse momento eu me dei conta do quão somos (no caso, eu) egoístas. Para nós, o comunismo não passa de uma corrente econômica-filosófica entregue à falência. Para os europeus, é uma carga pesadíssima, que leva consigo a depressão, o espírito de anticristo, a opressão, a falta de amor/frieza/fé, a esperança em riquezas - afinal, o que pode eclodir a qualquer momento?

É nessa parte que as duas pilulas diante de Neo voltam à cena. Qual atitude eu deveria tomar? Escolher a pilula azul e continuar sonhando em morar nas cidades mais ricas e visitadas do mundo só porque elas me fazem bem, enquanto pessoas morrem sem Cristo e vão para o inferno? Ou eu deveria ir para esses lugares, mas ao invés de me deleitar com os prazeres turístico, aproveitar para dedicar meu tempo ao campo missionário?

Não é uma decisão fácil de ser tomada. É a cruz. É abrir mão da própria vida para que outros possam viver. É simplesmente Jesus.

Levar um baque santo desse logo no primeiro dia deixou os participantes da conferência bem animados para o que ainda viria no Connection. Essa que vos escreve, porém, acaba aqui. Afinal, quando escolhermos a pílula vermelha, ainda temos que trabalhar!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Uma carta da Vida Real à Utopia

por Roberta F. Rodrigues

La Trahison des images - René Magritte

Um dia a Utopia enviou uma carta à Vida Real tentando convencê-la de que todo o seu esforço não valia a pena e cobrando-a certas coisas. A Vida Real respondeu mais ou menos assim...

De: Vida Real
Para: Utopia

Utopia, minha cara! Agradeço pelas ideias, mas se falta tempo para pensar, respirar e dançar, quem dirá para amar! O que importa, de verdade, é nunca desistir e sempre ter tempo de sorrir.
Quem foi que disse que só o amor (eros, vale ressaltar) é que traz à vida o suave calor?
A alegria, minha amiga, não depende de magia.
Magia? A realidade é a melhor via!
Venha comigo e aprenda com o perigo.
Utopia, todos tentam fugir de mim. Sim, às vezes até eu acho que não sou capaz de fazer alguém feliz, mas é porque são poucas as pessoas que tentam encontrar o que há de bom no que eu ofereço.
Crescimento, talento, conhecimento. Resistência, paciência, benevolência. Cuidado, atenção, oração.

Se não te convenci, Utopia, de que eu realmente posso ser uma boa amiga, peço apenas que não engane os que trato com tanto carinho: aqueles que me aceitaram como sou, vivem felizes ao meu lado e sofrem menos por terem sempre encarado tudo de verdade.

Ah, Utopia. Sobre os meus, eles têm tudo o que os seus também têm, mas aproveitam com muito mais sabedoria. Enfrentam as situações com muito mais ousadia, e saem com mais coragem. Não há espaço para o medo.

Utopia, agradeço pela carta e pelos conselhos, mas, pelo menos por enquanto, permanecerei do jeito que sou. Perdoe-me o paradoxo, digo simplesmente que fico assim: Feliz. Forte. Real. E vivendo um amor de verdade.