segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Videogames emburrecem sim, e as reações ao preço do Playstation 4 são a prova disso

Mais uma pérola das redes sociais

É verdade, eu exagerei no título desse texto. Mas há um motivo. Tenho visto diversas publicações sem noção no Facebook sobre o quanto a Dilma Rousseff é má e como o nosso governo é aproveitador porque o dito “mensalão” ainda não teve um final feliz. Não! Espera, não é por causa disso. É porque falta água no sul do Piauí e pouco se é feito por políticos para que isso se resolva. Ah, poxa, esse também não é o motivo. O fato que tem causado indignação tamanha nos pobres coitados da “geração Y” (ou “Z”) é o preço do novo Playstation 4.

De acordo com essas crianças que passaram um bom tempo fechando GTA e God of War – eu sempre fui Tony Hawk no modo fácil – a moça que trabalha no Palácio do Planalto é a responsável pelos absurdos R$ 4 mil cobrados pela Sony. Seguindo a mesma linha de raciocínio, essas pessoas que pagam R$ 100 em uma blusa da Hollister e acham que o Bolsa Família é um desserviço ao país, ainda afirmam que isso é mais uma prova da “porcaria que é o nosso governo”.

Vamos à primeira verdade: a Sony é uma empresa privada. Portanto, não há interferência do Estado em suas decisões. Muito menos do estado brasileiro, uma vez que ela é japonesa. O MÁXIMO que pode existir de influência governamental no preço do Playstation são os impostos, taxas às quais qualquer outro produto, importado ou não, está submetido.

Agora, analisemos. A carga total de impostos sobre o console é de aproximadamente 75% e o seu preço nos Estados Unidos é de US$ 400. Sendo assim, o valor do produto na importação já sobe para US$ 700. A moeda estadunidense, hoje, não é comprada por menos de R$ 2,30, mas transações comerciais, e um empresa como a Sony, certamente conseguem alguns prestígios. O resultado de uma conta fácil com esses dados é R$ 1.610,00. Vamos chutar lá para cima e pensar num dólar bem (mas BEM alto) e fechar com R$ 2 mil. Para onde vão os outros R$ 2 mil?

Podem falar de logística e mão de obra, mas não cola. É nesse momento que chegamos à segunda verdade.

Existe algo chamado “Lucro Brasil”. A expressão ficou famosa através de um texto bem didático do jornalista Joel Leite no site de sua agência de notícias, AutoInforme. O experiente profissional fala sobre como os impostos cobrados pelo governo brasileiro não explicam os preços absurdos praticados pelas montadoras (de carros) em solo nacional, conhecidos como os mais caros no mercado mundial – hm, alguma semelhança com o PS4?
Leiam o texto do Joel Leite para saberem direitinho do que se trata.

A partir dessas informações, amiguinhos, vamos pensar um pouco. Não, a culpa pelo alto preço do novo console da Sony não é da Dilma nem do PT. Se José Serra, Marina Silva, Plínio ou qualquer outra pessoa estivesse no lugar da mineira, não seria diferente (bom, no caso do Serra poderia até ser mais alto né? – risos). A empresa fabricante do videogame é a responsável pela fortuna exigida pelo seu lazer. Mas ela não está sozinha nessa.

Você, brasileiro, que compra um blazer da Zara por R$ 1 mil, que come em restaurante no bairro Jardins por R$ 600 (duas pessoas), que paga R$ 1,5 mil em um óculos de sol da Armani Exchange, e assim sucessivamente, é culpado pelo Lucro Brasil.

As empresas já sacaram há tempos que os brasileiros seguem o mesmo pensamento babaca dos estadunidenses de que quanto mais você tem do que custa mais caro, melhor (do que o seu próximo, claro) você é. Quanto mais status você adquire, mais amigos você tem, por isso, você se sente feliz.

Aí, meu amigo, enquanto você joga o seu videogame, come seu Kitkat e posta foto “de boas aqui fechando meu GTA V”, o governo já tirou um bocado (tipo assim, bastante mesmo, sabe?) de gente da pobreza, deu bolsa de estudos para pessoas que jamais conseguiriam entrar na faculdade e ter um futuro melhor (mas isso é desnecessário, já que seu pai paga, né?), e forneceu médicos cubanos a regiões que médicos formados em escolas públicas gratuitas (que coisa, também do governo) rejeitaram.

Não quero dizer que é ruim ter coisas boas. Tenho o meu iPhone, já viajei para o exterior várias vezes e meu pai banca minha faculdade, mas não é por isso que vou atirar no alvo mais provável a ir contra os meus desejos egoístas.

Talvez, se algumas pessoas separassem 1 hora do seu tempo dedicado a videogames e fossem estudar história e ler jornais, entenderiam melhor o que digo… e não chegariam na metade desse texto me chamando de petista.