quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Os perigos da "teologia do casamento" - parte 2


Antes de qualquer coisa, eu gostaria de deixar claro que o que será escrito aqui não é uma indireta. O público-alvo é um conjunto, não uma pessoa ou uma igreja específica, pois escrevo para a Igreja, que não é a que eu vou, a que eu ia, ou qualquer outra. É para aqueles que seguem a Jesus Cristo, o Senhor. Se usei algum exemplo relacionado a alguma conversa que já tivemos e você não gostou, não tive a intenção de te atingir. O fiz apenas porque é algo comum entra tantas pessoas. No entanto, já fica aqui o pedido de perdão adiantado e me coloco à disposição para conversarmos.

Minha intenção com essa série sobre a busca por um relacionamento entre os jovens cristãos é mostrar como isso se tornou uma prioridade tão absurda a ponto de ser pauta mais frequente do que missões, a volta de Jesus, e o estudo das profecias messiânicas, que guardam em si tanta beleza de Cristo! Dei o nome a essa prática de "teologia do casamento", uma analogia à "teologia da prosperidade". Como nesta, o tema tratado aqui será a prática da vida da Igreja voltada ao namoro e ao anseio por um casamento, que muitas vezes é confundido com outros sentimentos...


No texto de hoje, vou falar sobre como o "casamento" se tornou a solução dos líderes e pais de adolescentes/jovens na igreja para os pecados comuns nessa faixa etária.

Eu escrevi na primeira parte da série que "gostar de alguém" é a coisa mais comum do mundo, principalmente nessas duas fases em questão. E - pasmem - isso também acontece no meio da igreja! Ninguém é perfeito, e todo ser humano tem sentimentos. Os cristãos também passam pela temida puberdade, assim como se sentem atraídos por alguém do sexo oposto. Estar inserido em uma igreja não exclui o fato de que uma pessoa tem que passar por todas as etapas da vida, necessárias para que ela se forme como um adulto e se conheça. Além do mais, a importância da vivência de todas as fases está em que as dificuldades, tendências e áreas que precisam ser mudadas ficarão mais claras e isso permitirá ao indivíduo cuidar delas mais rápido e com menos dor.

Atualmente, no entanto, dentro e fora da igreja as etapas de crescimento não estão mais sendo vividas da maneira correta. Me chamem de puritana, mas eu não acho comum garotas de doze anos usarem salto, maquiagem e terem "namoradinhos", enquanto deveriam estar brincando e estudando. A pior parte é que cada vez mais cedo as crianças estão sendo influenciadas a gostarem do que adultos gostam: roupas, músicas, programas de TV, atividades, brincadeiras etc. Em todas as esferas, os adultos estão transformando as crianças em mini espelhos de sua realidade, e mais para a frente se perguntam onde erraram na criação de seus filhos.

O resultado foi a entrada de padrões mundanos na Igreja, o que obrigou a liderança a avançar no ensinamento de algumas coisas. Porém, quando nos deparamos com o assunto "namoro", surge uma grande dúvida: é pecado namorar? Para alguns lugares sim, é pecado. Para outros, não. O que atrapalha no entendimento é o meio termo. Mais ou menos assim: "Ah, namoro não é pecado. Porém, não é o que Deus escolheu". Estamos falando de conselhos dados para adolescentes, que vivem em momentos de grandes dúvidas, principalmente em relação à sua fé. Pensem comigo: se não é pecado, mas não é o que Deus escolheu... então, eu deduzo que mesmo que não seja algo que Ele quer, eu estou autorizada e desejo fazer, mas o deixarei triste, e não é isso que eu quero. De qualquer maneira, não é pecado, então por que Deus ficaria triste? Deu para entender como é confuso? É uma decisão muito difícil para alguém que nem mesmo sabe o que quer ser quando crescer - ou sequer crescer!

surge a palavra. "Casamento". Parece que o casamento é a solução para todos os problemas da juventude cristã. A lógica é essa: o jovenzinho gosta da jovenzinha. Os jovenzinhos começam a namorar, logo passam bastante tempo juntos. Passando bastante tempo juntos, inevitavelmente o jovenzinho e a jovenzinha se envolverão naquela palavra praticamente proibida: sexo. Dá a entender que qualquer relacionamento que não siga uma fórmula estabelecida pela igreja resultará nisso.

Líderes, discipuladores, pais... irmãos em Cristo no geral, por favor, não entendam errado o que vou escrever. O adolescente, o jovem, o adulto, quem quer que seja, vai pecar de qualquer maneira se o objetivo da vida dele não for agradar a Deus. Proibir/impedir/dificultar o namoro NÃO é o que vai fazer ninguém casar virgem. Pode até fazer, mas esse não é o caminho certo. Não é porque na reunião de jovens a maioria aceita o que é dito e quando conversam com o líder do seu grupo também, que por dentro a aceitação é tanto quanto no exterior. Eu sou jovem, e aceitava o que falavam sobre namoro porque eu tinha medo de que realmente fosse pecado - porque sempre falam só o(s) lado(s) negativo(s) do namoro. Hoje, eu aprendi que é a minha intimidade com Deus e a busca por aquilo que é eterno que vão me levar ao caminho correto em TODAS áreas da minha vida.

Essa preocupação com a precocidade do relacionamento sexual acabou se tornando o foco de tudo o que é ligado aos grupos de jovens e adolescentes. É como se todo pecado fosse ligado somente  a essa área. E mais uma vez, o modo como isso é tratado é errado! Simplesmente falam que é pecado, mas não explicam o porquê. É claro que qualquer pessoa que vai à igreja sabe que pecar o afastará de Deus, mas se ela que fazer o errado, de que vai adiantar dar essa justificativa? É necessário dar clareza e entendimento. Sobre esse assunto em específico (sexo), não vou me prolongar nesse texto, pois pretendo escrever a repeito disso em um post específico.

A minha intenção é deixar claro que fornicação não é o único pecado entre os adolescente/jovens, e - pasmem, mais uma vez -, que isso também acontece entre os casados (e como dói no meu coração escrever isso). Existe mentira, palavrão, omissão de dízimo, rebeldia, inveja... pecado! Só que falam TANTO sobre a área sexual que as outras parecem ser mais leves, menos relevantes para Deus. E a "culpa" pela fornicação na igreja cai tanto sobre os jovens que chega uma hora que cansa. A pessoa se esforça para não cair nessa área, vence e quer ouvir coisas novas, saber as novidades de Deus para ela, até que o mesmo assunto volta. Nós temos um Mestre que inspirou a escreverem "não temas" 365 vezes na Bíblia, um para cada dia do ano. Toda manhã, Ele quer falar algo novo, e vamos nos prender àquilo que já sabemos e não praticamos por egoísmo nosso para com Deus?

Nesse contexto, vemos o "casamento" como a solução para os pecados relacionados à área sexual. Mas e aqueles que tem a ver com o caráter? É o casamento que vai curar? NÃO! É o relacionamento e o desejo de estar com Cristo em cada momento do seu dia. É saber que pecar voluntariamente vai afastar Jesus de você, e ter arrepios só de imaginar passar um segundo de sua vida sem Ele.

Por que eu acho que os adolescentes/jovens têm que ouvir menos sobre "casamento"? Por que eu acho que eles já ouviram demais! Eu tenho uma irmã de 17 anos e um irmão de 16. Se eu perguntar para eles qual o "processo para o namoro correto", vão me responder rapidinho, uma vez que logo cedo eles aprenderam sobre isso. OK, é válido e importante. Mas eles já decoraroam porque esse assunto é ministrado o tempo todo. Agora, se eu perguntar sobre a conversão do foco da propagação do evangelho apenas dos judeus para a inclusão dos gentios, será que vão saber responder? Será que vão saber que em Isaías foi revelado que para Deus não foi suficiente enviar o Escolhido apenas para os judeus, mas também para que ele fosse luz do mundo (peço desculpa por não encontrar a referência agora. Se alguém souber, por favor, me fala!)?

Sabe, como uma jovem cristã eu sinto muita falta dos ensinamentos sobre missões, conhecimento em assuntos não cristãos (política, economia, cinema, música etc.) e da própria teologia (como isso pode ser considerado pecado???). A Igreja é escarnecida na sociedade hoje porque está preocupada apenas consigo. O interesse em MOSTRAR Cristo e APRESENTAR a glória dele na Terra foi trocado por uma busca pela perfeição para que o EU esteja próximo de Deus e o resto simplesmente tolere isso - porque os não-cristãos são vistos como "resto" pelos cristãos, sendo que Jesus veio para TODOS, e nós mesmos já fomos esse suposto "resto". Ninguém quer correr o risco ou dar a cara à tapa. Nas rodas de trabalho e nas faculdades tiram sarro da nossa fé porque não sabemos defende-la. O "Templo de Salomão" está sendo construído no centro de São Paulo porque tem um monte de homem inteligente usurpando a palavra de Deus, e nós não os confrontamos com medo de sermos orgulhosos demais. Enquanto isso, está aí o nome do Senhor sendo manchado por alguns que se dizem homens de Deus. O que Jesus fez quando viu a situação absurda do templo de Jerusalém? Assistiu quieto à deturpação do lugar sagrado?

Depois de todo esse discurso, talvez você esteja se perguntando onde a "teologia do casamento" se encontra no contexto apresentado. Cheguei, então, à conclusão. Na "teologia da prosperidade", o dinheiro que Deus vai te dar acabará com todos os seus problemas. Na "teologia do casamento", a mudança de status acabará com todos os seus pecados. A prova disso é a morosidade que observamos em vários casais que após firmarem os votos eternos não trabalham mais na Igreja e são vistos poucas vezes entre os irmãos em atividade.

Siiim! Teremos mais textos por aí!
Aproveitem os dois  publicados até agora, e que o Senhor Jesus fale com cada um de vocês.
Gostaria de lembrar que não quero que ninguém tome essas palavras que escrevo como verdade absoluta. Lembrem-se do que está aí em cima: é a sua intimidade e o relacionamento com Cristo que trarão as respostas às suas dúvidas e ao aperfeiçoamento na caminhada!!!

No amor de Cristo,
Roberta

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os perigos da "teologia do casamento" - parte 1

Antes de qualquer coisa, eu gostaria de deixar claro que o que será escrito aqui não é uma indireta. O público-alvo é um conjunto, não uma pessoa ou uma igreja específica, pois escrevo para a Igreja, que não é a que eu vou, a que eu ia, ou qualquer outra. É para aqueles que seguem a Jesus Cristo, o Senhor. Se usei algum exemplo relacionado a alguma conversa que já tivemos e você não gostou, não tive a intenção de te atingir. O fiz apenas porque é algo comum entra tantas pessoas. No entanto, já fica aqui o pedido de perdão adiantado e me coloco à disposição para conversarmos.

Minha intenção com essa série sobre a busca por um relacionamento entre os jovens cristãos é mostrar como isso se tornou uma prioridade tão absurda a ponto de ser pauta mais frequente do que missões, a volta de Jesus, e o estudo das profecias messiânicas, que guardam em si tanta beleza de Cristo! Dei o nome a essa prática de "teologia do casamento", uma analogia à "teologia da prosperidade". Como nesta, o tema tratado aqui será a prática da vida da Igreja voltada ao namoro e ao anseio por um casamento, que muitas vezes é confundido com outros sentimentos...

Ah, o amor! Acho engraçado que no meio dos jovens cristãos a tradução de amor é casamento, como se não houvesse qualquer sentimento semelhante a esse durante o processo de namoro. Ou melhor, processos. Para bater um papo sério e de gente grande, vou falar a verdade: "orar por alguém" virou um namoro enrustido na maioria dos casos. Se pensarmos bem, enquanto estamos "orando" conhecemos a pessoa melhor, assim como a sua família. Passamos mais tempo juntos, trocamos mais mensagens... enfim, um punhado de coisas que acontecem naturalmente no namoro, mas sem o contato físico (andar/ficar abraçado, andar de mãos dadas, etc.). Com isso explicado, fica a justificativa para o "processos", no plural: conhecemos várias pessoas que já "oraram com alguém" mais de uma vez. Não deu certo com esse? Deu com outro - ou não, e se tornou um círculo viciante e cansativo.

Você deve estar pensando no que eu quero dizer com tudo isso. O que eu quero dizer é que NA MINHA OPINIÃO (e deixo isso bem claro para que ninguém queira concordar como se fosse verdade bíblica, ok?) um dos maiores erros da liderança da juventude cristã hoje em dia é forçar jovens e, pior ainda, adolescentes ao casamento quando surge um sentimento entre duas pessoas.

AI MEU DEUS, MISERICÓRDIA DA VIDA DELA - imagino que essas palavras tenham brotado em algumas mentes que leem esse texto.

CALMA!

Pessoal, convenhamos. Quando somos adolescentes e jovens adultos uma das coisas mais naturais é gostarmos de um aqui e de outro ali. Nos sentimos atraídos por alguém, começamos a sonhar com uma vida juntos, mas... somos apenas adolescentes e jovens adultos (por volta de uns 13-23 anos). Sejamos sinceros: não queremos a responsabilidade de um casamento, mas sim abraçar, beijar e estar inserido em um contexto social onde TODOS já tem o seu par logo cedo.

Acontece, porém, que esses adolescentes e jovens adultos que cresceram na igreja sempre ouviram sobre os malefícios do namoro, e como o único objetivo desse nível de relacionamento é o casamento. Mais sério ainda é o modo como o assunto "casamento" é ministrado diante desse público. Eu vou à igreja desde os meus 8 anos. Hoje, com 21 primaveras, posso dizer que isso é tratado de modo maçante, repetitivo - o que o torna ultrapassado, e errado.

Primeiro, antes de qualquer coisa cria-se a expectativa de que tudo o que fazemos, de algum modo, terá como fim o casamento. É mais ou menos assim: "Estude, porque um dia você vai casar", "trabalhe, porque um dia você vai casar", "seja obediente aos seus pais, senão vai ter dificuldades em obedecer o seu marido", "leia a Bíblia agora que apenas estuda/trabalha, porque quando casar vai ser mais difícil". Deu pra entender como essas frases, depois de uns seis anos no mínimo e ter criado um certo pensamento crítico baseado na palavra de Deus, ficam pesadas?

1. Por que um rapaz de 11-12 anos (sim, sabemos que já falam sobre casamento para essas crianças) vai querer estudar com a justificativa de que um dia vai casar? Ele quer jogar videogame, jogar bola. Não quer casar. Ele nem entende isso direito!

2. Quantas coisas podem ser feitas com o trabalho que não são o casamento? Viajar, comprar um carro, um apartamento, apadrinhar uma criança, doar uma quantia de dinheiro para alguma instituição mensalmente. E, por que não, se realizar profissionalmente? Isso não é pecado, gente! Realização profissional significa que você está feliz e satisfeito com a posição que Deus te deu atualmente. Na real, eu sou estagiária, e isso pode soar meio egoísta, mas não é o que eu quero dizer: se eu fosse homem, não pensaria em sustentar uma casa com o meu precioso salário (frase isenta de sarcasmo!!!)! Eu ia pensar em viajar, comprar um videogame e vários jogos, sair com os amigos e a galera da igreja. Cuidar de uma família não é algo fácil. Você até pode falar que o importante é "viver de amor", mas na hora que a situação ficar apertada (e não é o que eu desejo!!!), vai repensar esse conceito.

3. Obedecer ao marido. Caramba, que frase dura. É preciso ter muito cuidado, porque isso não é incentivo para obedecer mais aos pais. Se ter que se submeter ao papai e à mamãe já é difícil, imagina ao marido, um homem que você conheceu DE FATO há, o que? Cinco anos - há exceções a esse tempo? Essa frase só gera aversão ao casamento, medo dos homens e sua autoridade, e rebeldia.

4. Amigo, simples: se você acha que vai deixar de priorizar a leitura bíblica e a oração quando casar, não case. E outra, se o jovem não quiser casar, como isso vai ser incentivo? Líder, por favor, nunca use isso como forma de incentivar um adolescente/jovem adulto a ler a Bíblia! Simplesmente mostre para ele/ela esse versículo: "Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido." - Josué 1:8

Outra coisa que eu acho muito errada é tratar o casamento e algumas de suas particularidades como recompensa pelas boas atitudes. Por exemplo: "aquela irmãzinha é tão dedicada na obra da Igreja, Deus vai dar um marido muito bom para ela", "olha, aquele cara é uma benção mesmo, por isso Deus deu uma esposa tão bonita para ele", e "obrigado pela ajuda, irmão, que Deus te dê uma varoa muito abençoada". Esses são apenas alguns exemplos.

Baseado nos dois primeiros, vamos raciocinar: se todos os irmãos que fossem dedicados na obra da igreja tivessem como recompensa estar casados, por que tem tanta gente muito mais à disposição de Deus ainda esperando por um cônjuge enquanto outros que muitas vezes nem ficam prestando atenção na ministração já estão com o seu ou estão prestes a estar? Injustiça? Sabemos que Deus não faria algo assim. Quanto a esse que vou falar agora, peço até desculpa... mas há muita hipocrisia rolando na igreja quando o assunto é beleza. Todos (T-O-D-O-S) dizem que não se importam com os aspectos físicos do seu futuro marido ou de sua futura esposa, mas se aquela irmãzinha mais feinha, gordinha ou que não sabe se vestir bem começa a gostar do rapaz, é capaz até do irmão orar pedindo pra Deus afastar o sentimento dela. E o mesmo acontece com o sexo oposto.

Encerro por aqui a primeira parte dessa série com a seguinte conclusão: se na teologia da prosperidade ouvimos "deposite aqui seu dízimo para que Deus o torne rico", na "teologia do casamento" temos "cumpra os mandamentos de Deus para que Ele te dê um cônjuge".

Aguarde o próximo texto!
No amor de Cristo,
Roberta