terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os perigos da "teologia do casamento" - parte 1

Antes de qualquer coisa, eu gostaria de deixar claro que o que será escrito aqui não é uma indireta. O público-alvo é um conjunto, não uma pessoa ou uma igreja específica, pois escrevo para a Igreja, que não é a que eu vou, a que eu ia, ou qualquer outra. É para aqueles que seguem a Jesus Cristo, o Senhor. Se usei algum exemplo relacionado a alguma conversa que já tivemos e você não gostou, não tive a intenção de te atingir. O fiz apenas porque é algo comum entra tantas pessoas. No entanto, já fica aqui o pedido de perdão adiantado e me coloco à disposição para conversarmos.

Minha intenção com essa série sobre a busca por um relacionamento entre os jovens cristãos é mostrar como isso se tornou uma prioridade tão absurda a ponto de ser pauta mais frequente do que missões, a volta de Jesus, e o estudo das profecias messiânicas, que guardam em si tanta beleza de Cristo! Dei o nome a essa prática de "teologia do casamento", uma analogia à "teologia da prosperidade". Como nesta, o tema tratado aqui será a prática da vida da Igreja voltada ao namoro e ao anseio por um casamento, que muitas vezes é confundido com outros sentimentos...

Ah, o amor! Acho engraçado que no meio dos jovens cristãos a tradução de amor é casamento, como se não houvesse qualquer sentimento semelhante a esse durante o processo de namoro. Ou melhor, processos. Para bater um papo sério e de gente grande, vou falar a verdade: "orar por alguém" virou um namoro enrustido na maioria dos casos. Se pensarmos bem, enquanto estamos "orando" conhecemos a pessoa melhor, assim como a sua família. Passamos mais tempo juntos, trocamos mais mensagens... enfim, um punhado de coisas que acontecem naturalmente no namoro, mas sem o contato físico (andar/ficar abraçado, andar de mãos dadas, etc.). Com isso explicado, fica a justificativa para o "processos", no plural: conhecemos várias pessoas que já "oraram com alguém" mais de uma vez. Não deu certo com esse? Deu com outro - ou não, e se tornou um círculo viciante e cansativo.

Você deve estar pensando no que eu quero dizer com tudo isso. O que eu quero dizer é que NA MINHA OPINIÃO (e deixo isso bem claro para que ninguém queira concordar como se fosse verdade bíblica, ok?) um dos maiores erros da liderança da juventude cristã hoje em dia é forçar jovens e, pior ainda, adolescentes ao casamento quando surge um sentimento entre duas pessoas.

AI MEU DEUS, MISERICÓRDIA DA VIDA DELA - imagino que essas palavras tenham brotado em algumas mentes que leem esse texto.

CALMA!

Pessoal, convenhamos. Quando somos adolescentes e jovens adultos uma das coisas mais naturais é gostarmos de um aqui e de outro ali. Nos sentimos atraídos por alguém, começamos a sonhar com uma vida juntos, mas... somos apenas adolescentes e jovens adultos (por volta de uns 13-23 anos). Sejamos sinceros: não queremos a responsabilidade de um casamento, mas sim abraçar, beijar e estar inserido em um contexto social onde TODOS já tem o seu par logo cedo.

Acontece, porém, que esses adolescentes e jovens adultos que cresceram na igreja sempre ouviram sobre os malefícios do namoro, e como o único objetivo desse nível de relacionamento é o casamento. Mais sério ainda é o modo como o assunto "casamento" é ministrado diante desse público. Eu vou à igreja desde os meus 8 anos. Hoje, com 21 primaveras, posso dizer que isso é tratado de modo maçante, repetitivo - o que o torna ultrapassado, e errado.

Primeiro, antes de qualquer coisa cria-se a expectativa de que tudo o que fazemos, de algum modo, terá como fim o casamento. É mais ou menos assim: "Estude, porque um dia você vai casar", "trabalhe, porque um dia você vai casar", "seja obediente aos seus pais, senão vai ter dificuldades em obedecer o seu marido", "leia a Bíblia agora que apenas estuda/trabalha, porque quando casar vai ser mais difícil". Deu pra entender como essas frases, depois de uns seis anos no mínimo e ter criado um certo pensamento crítico baseado na palavra de Deus, ficam pesadas?

1. Por que um rapaz de 11-12 anos (sim, sabemos que já falam sobre casamento para essas crianças) vai querer estudar com a justificativa de que um dia vai casar? Ele quer jogar videogame, jogar bola. Não quer casar. Ele nem entende isso direito!

2. Quantas coisas podem ser feitas com o trabalho que não são o casamento? Viajar, comprar um carro, um apartamento, apadrinhar uma criança, doar uma quantia de dinheiro para alguma instituição mensalmente. E, por que não, se realizar profissionalmente? Isso não é pecado, gente! Realização profissional significa que você está feliz e satisfeito com a posição que Deus te deu atualmente. Na real, eu sou estagiária, e isso pode soar meio egoísta, mas não é o que eu quero dizer: se eu fosse homem, não pensaria em sustentar uma casa com o meu precioso salário (frase isenta de sarcasmo!!!)! Eu ia pensar em viajar, comprar um videogame e vários jogos, sair com os amigos e a galera da igreja. Cuidar de uma família não é algo fácil. Você até pode falar que o importante é "viver de amor", mas na hora que a situação ficar apertada (e não é o que eu desejo!!!), vai repensar esse conceito.

3. Obedecer ao marido. Caramba, que frase dura. É preciso ter muito cuidado, porque isso não é incentivo para obedecer mais aos pais. Se ter que se submeter ao papai e à mamãe já é difícil, imagina ao marido, um homem que você conheceu DE FATO há, o que? Cinco anos - há exceções a esse tempo? Essa frase só gera aversão ao casamento, medo dos homens e sua autoridade, e rebeldia.

4. Amigo, simples: se você acha que vai deixar de priorizar a leitura bíblica e a oração quando casar, não case. E outra, se o jovem não quiser casar, como isso vai ser incentivo? Líder, por favor, nunca use isso como forma de incentivar um adolescente/jovem adulto a ler a Bíblia! Simplesmente mostre para ele/ela esse versículo: "Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido." - Josué 1:8

Outra coisa que eu acho muito errada é tratar o casamento e algumas de suas particularidades como recompensa pelas boas atitudes. Por exemplo: "aquela irmãzinha é tão dedicada na obra da Igreja, Deus vai dar um marido muito bom para ela", "olha, aquele cara é uma benção mesmo, por isso Deus deu uma esposa tão bonita para ele", e "obrigado pela ajuda, irmão, que Deus te dê uma varoa muito abençoada". Esses são apenas alguns exemplos.

Baseado nos dois primeiros, vamos raciocinar: se todos os irmãos que fossem dedicados na obra da igreja tivessem como recompensa estar casados, por que tem tanta gente muito mais à disposição de Deus ainda esperando por um cônjuge enquanto outros que muitas vezes nem ficam prestando atenção na ministração já estão com o seu ou estão prestes a estar? Injustiça? Sabemos que Deus não faria algo assim. Quanto a esse que vou falar agora, peço até desculpa... mas há muita hipocrisia rolando na igreja quando o assunto é beleza. Todos (T-O-D-O-S) dizem que não se importam com os aspectos físicos do seu futuro marido ou de sua futura esposa, mas se aquela irmãzinha mais feinha, gordinha ou que não sabe se vestir bem começa a gostar do rapaz, é capaz até do irmão orar pedindo pra Deus afastar o sentimento dela. E o mesmo acontece com o sexo oposto.

Encerro por aqui a primeira parte dessa série com a seguinte conclusão: se na teologia da prosperidade ouvimos "deposite aqui seu dízimo para que Deus o torne rico", na "teologia do casamento" temos "cumpra os mandamentos de Deus para que Ele te dê um cônjuge".

Aguarde o próximo texto!
No amor de Cristo,
Roberta

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